Santa Maria da Feira, Portugal-Rosto Solidario

Castelo de Santa Maria da Feira

A Terra de Santa Maria tinha como sede administrativa um castelo estrategicamente localizado, junto à antiga estrada romana que fazia a ligação entre o Porto e Coimbra. Este castelo, designado por Castelo de Santa Maria e, mais tarde, por Castelo da Feira, terá tido um papel importante na origem da nacionalidade. Pensa-se que algumas das suas principais funções ao longo dos últimos séculos terão sido de fortificação militar, planeamento de operações, proteção da família real e residencial. Até ao século XI, pensa-se que o castelo terá sido um castro habitado por lusitanos, romanos, visigodos e mouros, de acordo com algumas lendas e vestígios encontrados no local. O nome de Terra de Santa Maria terá sido dado pelo Rei Afonso III de Leão (866-911), responsável pela criação da região administrativa, centrando a sua defesa numa fortaleza militar existente. Não se sabe as razões que estarão na origem deste nome, mas parece afirmar uma devoção à fé católica num lugar importante na luta contra os inimigos da fé. Nesta época, a Terra de Santa Maria era delimitada a norte pelo rio Douro, a Oeste pelo Oceano, a Este pelo rio Arda e pelas serras da Freita e da Arada e, a Sul pelo rio Vouga. Ao longo do tempo, estas fronteiras foram evoluindo. Em 1114, após a morte do conde D. Henrique, D. Teresa, sua viúva, apaixona-se por Fernando Peres de Trava, um fidalgo galego ao serviço de D. Diogo Gelmirez, arcebispo de Santiago de Compostela. Este tinha como objetivo ocupar o condado portucalense pela Galiza. Face a este contexto, muitas famílias poderosas ficaram com receio que viessem a perder o seu poder, nomeadamente, as famílias Moniz, de Riba Douro (Ermígio, Mendo e Egas), Sousa (da Maia), Nuno Soares (de Grijó) e a família de Pero Gonçalves (de Marnel). Como tal, estas famílias decidiram apoiar D. Afonso Henriques contra sua mãe, D. Teresa. Pela localização geográfica da residência destas famílias e pela posição estratégica do Castelo da Feira, pensa-se que aqui terá sido planeada a batalha de S. Mamede em 1128 que contribuiu para a autonomia do reino de Portugal. Este Castelo, deverá ter sido considerado uma fortaleza segura, uma vez que, em 1188, D. Sancho I terá colocado à disposição da Rainha D. Dulce e das suas filhas como abrigo. Em 1251, D. Afonso III ordena as inquirições, que estabelecem obrigações dos povos para com o castelo e o paço régio da Feira e, 50 anos depois, D. Dinis inclui o castelo no dote concedido a sua mulher, a Rainha Santa Isabel. No final do século XIV, pelos serviços valiosos prestado ao rei, D. João I entrega a Terra de Santa Maria a Álvaro Pereira, marechal do reino e que era tio-primo de Nuno Álvares Pereira, conhecido como o Santo Condestável. Durante vários anos, o castelo entrou em degradação até que, em 1448, D. Afonso V doou o castelo a Fernão Pereira, neto de Álvaro Pereira, que às suas custas, recuperou o castelo surgindo assim o 1º conde da Feira, Rui Pereira, filho de Fernão Pereira. O castelo foi perdendo as suas funções militares e a pouco e pouco parte da Torre de Menagem passou a ser residência dos Condes da Feira. Ao longo do tempo, o espaço da Torre de Menagem veio a revelar-se insuficiente e, no século XVII é construído o Paço dos Condes, cuja construção termina em 1652. Também no século XVII é construída a Capela da Nossa Senhora da Encarnação, anexa ao Castelo. Esta família esteve com a posse do castelo até 1700, quando D. Fernando, o 8º Conde da Feira morreu sem descendência. Em 1722, o palácio do Castelo sofreu um forte incêndio seguido por um longo período de declínio. As suas ruinas foram demolidas em 1929. Entre 1935 e 1940 o castelo sofreu obras de reparação que dão a aparência atual ao castelo, semelhante à que teria no século XVII. Bibliografia Agrupamento n.º 640 do Corpo Nacional de Escutas de Santa Maria da Feira (198-). Guia do Visitante do Castelo da Feira. 2ª Edição. Agrupamento n.º 640 do Corpo Nacional de Escutas, Santa Maria da Feira. Guimarães, S. (2008). Castelo de Santa Maria da Feira. 1ª Edição. Comissão de Vigilância do Castelo de Santa Maria da Feira. Mattoso, J. (1993). A Terra de Santa Maria na Idade Média: Limites Geográficos e Identidade Peculiar. Comissão de Vigilância do Castelo de Santa Maria da Feira.

 

Church and Convent of Lóios

A Igreja Matriz de Santa Maria da Feira e o Convento dos Lóios pertenceram à Congregação de São João Evangelista, também conhecidos como Frades Lóios ou, popularmente, como os frades Azúis, cor do respetivo hábito. O nome desta Congregação resulta de Santo Elói que dava o nome a um hospital em Lisboa e foi fundada na primeira metade do século XV por fundadores portugueses. Esta Congregação desenvolvia a sua obra essencialmente no campo assistencial e assumiram a administração de vários hospitais em todo o país. O Convento em Santa Maria da Feira foi o nono e último da Congregação e resulta da vontade do 3.º Conde da Feira, D. Manuel Pereira e sua mulher D. Isabel de Castro e, posteriormente, mandado construir pelo seu primogénito, o 4.º Conde da Feira, D. Diogo Forjaz Pereira e sua esposa D. Ana de Meneses. Em 1560 lançaram a primeira pedra e, em 1566, o Convento já se encontrava em condições de ser habitado. A Igreja foi construída posteriormente já no século XVII em fases distintas. Na primeira fase foi construída a capela-mor e o cruzeiro (primeira pedra lançada no ano de 1625) e, posteriormente, na segunda fase, foi construído o restante corpo da igreja e o claustro, terminada em 1743. A escadaria monumental está datada como terminada em 1746. Atualmente, a Igreja e Convento dos Lóios, incluindo a escadaria monumental, encontra-se classificado como Monumento de Interesse Público na categoria Arquitetura Religiosa/ Convento. Localizado no centro histórico de Santa Maria da Feira, trata-se de um Convento maneirista com igreja, que mantém uma utilização paroquial, de planta em cruz latina, nave única e claustro de dois pisos. Este monumento está inserido na tipologia das igrejas monumentais seiscentistas de feição classicista da região portuense o que a coloca no modelo tridentino de transição. Após a extinção das ordens religiosas, o Convento foi entregue à Camara Municipal de Santa Maria da Feira em 1834 e, desde então, teve várias funções enquanto equipamento público. Este Convento foi utilizado como Tribunal e Conservatórias; em 1878 inaugurou-se numa das partes do Convento o teatro D. Fernando II; em 1992, o Convento dos Lóios recebe o Museu e; a partir do ano 2000 passa a ser designado por Museu Convento dos Lóios. Atualmente, este é um espaço que se dedica à salvaguarda, valorização e divulgação da História e Património da Região com exposições de arqueologia, história e etnografia sobre a Origem da Humanidade, a evolução e o desenvolvimento do território administrativo, outrora designado por Terra de Santa Maria. Muitos dos edifícios outrora pertencentes à Congregação de São Soão Evangelista, estão neste momento dedicados ao setor hoteleiro e turismo e estão muito bem preservados. O facto deste Convento em Santa Maria da Feira ter sido transformado em museu é também uma forma de dar a conhecer a história e obra desta Congregação, pouco conhecida em Portugal. Bibliografia http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/5035987/ http://www.visitfeira.travel/index.php?s=3&ss=35&sss=31 https://www.e-cultura.pt/patrimonio_item/2349 Tavares, Pedro Vilas Boas (2009). Os Lóios em Terras de Santa Maria – do Convento da Feira à realidade nacional da congregação. Câmara Municipal, Santa Maria da Feira

 

Café Castelo – Fogaça da Feira

O Café Castelo é um café histórico da cidade que existe desde 1943 e confeciona diariamente o doce típico do Concelho de Santa Maria da Feira, a Fogaça da Feira IGP. Este fabrico distingue-se pela preparação tradicional e na forma como vai a cozer ao forno, sendo este aquecido a lenha. A Fogaça da Feira IGP (Indicação Geográfica Protegida) é um pão doce com sabor e aroma a limão e canela, de tonalidade acastanhada e forma cónica estilizando no topo quatro bicos. A suas especificidades são a sua forma cónica que resultam de uma forte ligação à região e de um processo de preparação que resulta do saber fazer local. Os quatro bicos no topo da fogaça, designados por “coruchéus”, representam as quatro torres do Castelo de Santa Maria da Feira e é uma característica distintiva deste pão doce. A produção da Fogaça da Feira IGP está circunscrita ao concelho de Santa Maria da Feira. As origens da Fogaça da Feira IGP remetem para o ano 1220, pelas referências da mesma como foro e tributos que os camponeses deviam pagar, inquirições ordenadas por D. Afonso II, na Terra de santa Maria, sede administrativa e militar da região e tendo como sede o Castelo da Feira, o qual foi inspiração para a sua forma. A Fogaça da Feira IGP é a personagem principal na Festa das Fogaceiras, nome popular da festa que se realiza anualmente no dia 20 de janeiro. A Festa das Fogaceiras é a mais emblemática festividade da cidade, é uma tradição com mais de quinhentos anos e representa a devoção do povo da Terra de Santa Maria. Em 1505, parte da população foi dizimada devido a um surto de peste que assolou a região. De forma a obter proteção, este povo fez um voto a S. Sebastião e prometeu a oferta de um pão doce, a Fogaça. S. Sebastião, o santo padroeiro desta região. Entre1749 e 1753, o povo de Santa Maria da Feira deixa de cumprir a promessa e os habitantes são assolados novamente pela peste. Face a este flagelo, por vontade do povo e da Câmara ainda em 1753 a tradição é retomada. Assim, nasceu a Festa das Fogaceiras, que abre com um cortejo cívico do Paços do Concelho até à Igreja Matriz, no qual participam três meninas, vestidas de branco e com faixas de diversas cores à cinta. Cada uma das meninas leva uma fogaça do voto e são acompanhadas por outras fogaceiras, uma com o tabuleiro com as velas dos votos e outra com a miniatura do castelo da Feira. A seguir, vêm dezenas de meninas, vestidas de igual forma, que transportam fogaças que são benzidas na missa solene, celebrada após o cortejo. À tarde uma procissão percorre as ruas da cidade levando, também, o andor de S. Sebastião. No fim da procissão as fogaças são distribuídas pelas entidades religiosas, militares e administrativas da cidade. Antigamente, as fogaças eram distribuídas aos condes da Feira, aos doentes do hospital e aos presos da cadeia. Bibliografia https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/cat/pao-e-produtos-de-panificacao/598-fogaca-da-feira-igp https://cm-feira.pt/-/festa-das-fogaceir-2 Modesto, M. L., Praça, A.E. (1999). Festas e comeres do povo português. Verbo. Lisboa

Escultura Diorama Cork Factory/ Cortiça/ Arte Urbana

Esta Escultura representa várias dimensões da identidade de Santa Maria da Feira. Por um lado, esta peça foi construída em cortiça, sendo Santa Maria da Feira o polo industrial principal de transformação deste produto. Por outro lado, é uma peça de arte urbana que surge no âmbito do Imaginarius, Festival de Artes de Rua. A cortiça corresponde à casca do sobreiro que dá origem à rolha de cortiça, sendo este o produto de excelência deste material. Contudo a cortiça apresenta uma grande versatilidade podendo ser usada em indústrias muito diversas como a indústria aeroespacial, automóvel, construção, bens de consumo, pavimentos, calçado, mobiliário, painéis e compósitos, indústria elétrica, juntas e vedantes e superfícies desportivas. Esta escultura em cortiça, designa-se por “Diorama Cork Factory”, tem sete metros de altura e foi produzida pelo artista de arte urbana Alexandre Farto, mais conhecido por Vhils. Esta escultura expressa a relação de proximidade entre o ser humano e o meio onde trabalha, ou seja, explora a identidade social e cultural do indivíduo e o meio industrial onde este exerce a sua atividade. Esta peça reflete ainda o papel da indústria na economia e a falta de investimento que o setor secundário tem sofrido nas últimas décadas. Esta peça foi criada a convite do Imaginarius, o Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira. Este Festival é o maior evento de Artes de Rua realizado em Portugal e uma referência nacional e internacional. Desde 2001, aposta nas grandes produções internacionais e no desenvolvimento de criações originais, apoiando desta forma os criadores locais. Este Festival integra várias secções, nomeadamente o Mais Imaginarius para promover projetos de artistas emergentes e o Imaginarius Infantil com oficinas e experiências dedicadas a crianças dos 3 aos 12 anos. O Imaginarius está presente na Circostrada Network e tem várias parcerias com outros festivais e projetos de criação pelo que integra atualmente a rota europeia das Artes de Rua. Neste Festival já passaram algumas companhias mundiais que deixaram a sua marca no território como La Fura dels Baus, Royal de Luxe, Titanick Theatre, Pippo Delbono, Xarxa Teatre, Transe Express, Leo Bassi, Strange Fruit, Cacahuète, Gran Reyneta, CirkVOST, Hortzmuga Teatroa, KTO Theater, Odin Teatret, Pan Optikum e Antagon Theater AKTion. Além destas companhias, o Festival já contou com a participação de criadores como o Nobel da Literatura Dario Fo, os fotógrafos Spencer Tunick e Oliviero Toscani, o cineasta Manoel de Oliveira, a artista plástica Joana Vasconcelos e o mestre na arte do mascaramento urbano Donato Sartori, que envolveram a comunidade e o espaço público da cidade nas suas intervenções artísticas. Algumas das criações próprias mais marcantes foram o “Entrado”, que envolveu a participação de 30 reclusos do Estabelecimento Prisional do Porto, e “O Comboio Fantasma de Santa Maria da Feira”, de Lee Beagley com estruturas artísticas locais. Os projetos de teatro comunitário, como “Baralha”, desenvolvido com a comunidade cigana local, “Texturas”, que homenageou a indústria da cortiça, ou “EXPANDE” que explorou as tradições em torno da indústria do papel, também assumem um espaço de grande relevo no Festival. Bibliografia https://cm-feira.pt/roteiro-de-arte-urbana https://www.imaginarius.pt/ http://www.bizfeira.com/pt/negocios/cortica/

Igreja da Misericórdia

A Igreja da Misericórdia de Santa Maria da Feira está classificada como Monumento de Interesse Público na categoria de Arquitetura Mista desde 2012 e está relacionada com a Irmandade da Misericórdia de Santa Maria da Feira. A fundação das Santas Casas da Misericórdia em Portugal data do reinado de D. Manuel I (1469 -1521), pela vontade de apoiar e socorrer as pessoas mais carenciadas, em colaboração com os concelhos e câmaras municipais. Entre 1498 e 1525 foram fundadas muitas Misericórdias em todo o país. Não se tem a certeza sobre a data de fundação da Santa Casa da Misericórdia de Santa Maria da Feira, no entanto existe um registo de alvará de novembro de 1594, embora hajam alguns registos que parecem indicar que esta Misericórdia já existia antes desta data. Esta Irmandade instalou-se na Ermida de São Francisco que foi reformada pela comunidade do Convento dos Lóios de 1581 a 1591. Pela necessidade de ampliar este espaço, em 1690 a Irmandade da Misericórdia deu início à construção de uma nova igreja, onde outrora teria existido uma igreja dedicada a S. Nicolau. D. Joana Forjaz Pereira Meneses e Silva, 6ª Condessa da Feira, teve um papel essencial nesta iniciativa, ela que também foi responsável pela reconstrução da capela de Nossa Senhora da Encarnação no exterior das muralhas do castelo (1656). Em 1632 foi Provedora da Santa Casa da Misericórdia durante vários anos. Aqui se destaca o pioneirismo de uma Provedora eleita em pleno século XVII, este é um caso único das Misericórdias em Portugal e alvo de muita curiosidade. Esta Igreja da Misericórdia, apesar do projeto ter sido executado no final do século XVII, em plena época barroca, apresenta uma inspiração maneirista, sobretudo pela estrutura decorativa da fachada principal. Uma justificação possível pode ser a influência da construção da Igreja e Convento dos Lóios, uma vez que o início da construção da Igreja de Santa Casa da Misericórdia terá coincidido com a fase final da construção da igreja e convento dos Lóios. A Igreja da Santa Casa da Misericórdia da Feira está construída na zona alta do centro urbano. Esta está disposta de forma simétrica em três panos, cujo central é flanqueado por duas torres sineiras e apresenta ao centro portal, ladeado por pilastras encimadas por pináculos, e sobre o qual foi aberta uma janela de iluminação do coro-alto, rematada por frontão interrompido por nicho profusamente decorado, numa estrutura que se inspira nas fachadas-retábulo da segunda metade do século XVI. O interior, de nave única, apresenta coro-alto assente sobre arco rebaixado, tribuna da irmandade, aberta na parede do lado da Epístola, e dois arcosólios, fronteiros à tribuna, que albergam os retábulos laterais. O espaço é coberto por abóbada de caixotões de madeira. Abrindo para a capela-mor, o arco triunfal assenta sobre pilastras toscanas. O espaço da capela-mor foi edificado sobre uma plataforma elevada, à qual se acede por quatro degraus, e é coberta por abóbada de madeira, semelhante à da nave, aqui decorada e policromada. O retábulo foi executado no primeiro quartel do século XVIII, em talha barroca dourada. No retábulo-mor destacam-se as imagens de S. Francisco, S. Sebastião, Nossa Senhora de Campos e S. Nicolau. Esta última deverá ser pertença da antiga igreja paroquial de são Nicolau onde posteriormente a Irmandade da Misericórdia terá sido instalada. A Imagem de S. Sebastião em madeira é do século XV e tem como particularidade o facto de representar S. Sebastião a usar cuecas. A imagem de S. Francisco foi restaurada em 1638 pelo que é necessariamente anterior a esta data e a imagem de madeira de Nossa Senhora de Campos é provavelmente do século XVII. Em 1755, o grande terramoto provocou muitos danos na estrutura central da Igreja, principalmente pela queda da abóbada da nave, sendo que esta foi posteriormente reconstruída na segunda metade do século XVIII. O interior da igreja viria a ser restaurado na década de 80 do século XX. Bibliografia https://www.misericordia-feira.pt/hist/ http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/156154 http://miserere.pt/ https://www.misericordia-feira.pt/igreja-da-misericordia/ Rodrigues, D. S. (2008). Igreja da Misericórdia, História – Segredos e Mistérios. Santa Casa da Misericórdia de Santa Maria da Feira. Santa Maria da Feira.

Mercado Municipal

 

O Mercado Municipal de Santa Maria da Feira está classificado como Monumento de Interesse Público desde 2012 na categoria Arquitetura Civil/ Mercado. Esta é uma obra de referência para a arquitetura portuguesa e internacional dos anos cinquenta do arquiteto Fernando Távora e um dos edifícios mais estudados nos cursos de arquitetura em Portugal. Fernando Luís Cardoso Meneses de Tavares e Távora foi um dos arquitetos mais reconhecidos em Portugal e nasceu no Porto em 25 de agosto de 1923. Formou-se em Arquitetura na Escola de Belas Artes do Porto em 1946. Exerceu funções como docente nesta Escola e como arquiteto sendo autor de vários trabalhos teóricos em matérias da sua formação. A sua importância para a arquitetura em Portugal foi reconhecida com a atribuição do doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Coimbra, em 1993, e pela atribuição de diversos prémios. Fernando Távora morre, em Matosinhos, a 3 de setembro de 2005. O Mercado Municipal da Feira foi uma das suas primeiras obras e que marcou o seu crescimento enquanto profissional. O seu projeto teve início em 1953 e foi posteriormente inaugurado em 1959, pedido que a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira fez diretamente ao autor. Este edifício foi construído numa parcela de terreno quadrangular de 50 metros por 50 metros e é constituído por quatro pavilhões dispostos de forma ortogonal entre si, organizado em duas plataformas ligadas por duas escadas. No pátio interior na plataforma inferior existe uma fonte e um banco octogonal. Todo o recinto está organizado a partir de um módulo quadrado 1m x 1m. As coberturas foram desenhadas como “cobertura borboleta”. Tem betão armado (pilares e lajes de cobertura), granito (muros de suporte e paredes), azulejo de cor azul e branca (revestimentos) e betonilha com godo (no pavimento). Este Mercado conta também com mosaicos de Gouvêa Portuense e Álvaro Siza Vieira com figuras de produtos tradicionais que se vendiam aqui. Situado no centro histórico da cidade, este mercado reflete o meio envolvente onde está inserido. No desenho desta obra, o autor tem o cuidado de estudar previamente o local em termos de clima, exposição solar e os materiais da região. Além da sua funcionalidade enquanto mercado, o autor reconhece também este espaço como um local de encontro estre as pessoas e por isso o projeto e construção deste edifício tem também em conta esta dimensão. Atualmente, além da função enquanto mercado, este espaço é também palco de várias atividades culturais da cidade ao longo do ano, como por exemplo o Mercado de Natal, que surgiu como complemento do programa do parque temático “Perlim”. Bibliografia http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/6325648/ Riso, V. (2018). Reclaiming the use of Fernando Távora’s Municipal Market of Santa Maria da Feira. https://www.perlim.pt/sobre-perlim/

 

Espigueiro e Tradições Populares

O espigueiro, também designado por caniço ou canastro são locais onde o milho é armazenado e que facilmente se encontram em zonas de produção deste cereal. Esta estrutura tem como função proteger as colheitas de condições climatéricas desfavoráveis e armazenar de forma a garantir boas condições de arejamento e ventilação e a subsistência das populações até à próxima colheita. Esta é uma estrutura agrícola alta, estreita e com paredes com ripas de madeira de forma a facilitar a circulação de ar e proteger as espigas da humidade do solo e do acesso a animais como roedores e pássaros. Os espigueiros encontram-se essencialmente na região Norte de Portugal e na zona da Galiza, em Espanha, podendo apresentar diferentes materiais de construção, de acordo com o meio onde está inserido. Os espigueiros são construções simples constituídas por duas partes: o corpo – câmara interior estreita e ventilada onde as espigas são armazenadas; e o assento – estrutura onde o corpo é assente. O assento normalmente é construído em pedra ou alvenaria e constituído por quatro partes o soco, os pés e as mós ou mesas. O soco é construído quando o terreno é desnivelado e onde são assentes pés; os pés podem ser pés singelos (de pedra, a prumo e aos pares), pés transversais (pedras largas ou pequenas nos muros paralelos perpendiculares ao eixo longitudinal do espigueiro) e pés maciços (muro comprido sobre o qual se assenta a base do espigueiro). As mós e mesas são peças em pedra achatadas que rematam os pés do espigueiro, ao que são salientes para impedirem a passagem de animais roedores. As mós são de forma circular e são colocadas individualmente sobre cada pé, sendo que as mesas são de forma retangular e são colocadas em cada par de pés. O corpo do espigueiro é outro dos constituintes da construção, sendo este composto por base (lastro ou grade com soalho que pousam sobre o assento), esqueleto (elemento estrutural do ripado de madeira e das aberturas), paredes (ripado de madeira ou pedra de granito), portas, janelos, postigos (aberturas munidas de portinholas de correr) e cobertura. Estas estruturas terão surgido em épocas remotas, com funções semelhantes às atuais na região de Entre Douro e Minho até ao século XVI para armazenar outro tipo de alimentos como o trigo e leguminosas. O milho é um cereal originário do continente americano e terá sido introduzido em Portugal no século XVI. Os espigueiros, remetem para as tradições populares de um povo que, até aos anos 30, se dedicava essencialmente à agricultura de onde extraía o seu sustento. A partir desta década houve um forte desenvolvimento industrial em toda a região. Além do trabalho agrícola, de pastoreio do gado e das lides domésticas as pessoas tinham também várias tradições que passavam de geração para geração de celebração em determinadas datas, como o S. João, o S. Pedro, a quadra de janeiro e Reis, nas desfolhadas entre outras. No trabalho agrícola, estes envolviam muitas vezes dezenas de pessoas de ambos os sexos e de todas as idades, pelo que se vivia com um forte espírito comunitário. No caso de trabalhos como as ceifas, as malhadas, as colheitas de linho e as espadeladas na casa dos lavradores ricos, eram serviços jantares abundantes e no fim de temporada de um trabalho havia sempre festa com danças, cantares e tocadores de viola. Em 1981 nasce o primeiro Grupo Folclórico organizado na Vila da Feira, o Grupo de Danças e Cantares Regionais do Orfeão da Feira, sob a responsabilidade de Alberto Gilde e que ainda hoje mantêm vivas e conservadas as principais danças e cantares folclóricos do povo da Feira. Bibliografia Castro, A. L. R. (1991). Factos e Personalidades da Feira e do Concelho 1917 a 1950. Santa Maria da Feira Ribeiro, A. S. F. (2016). Património Vernacular Construído – O beiral, o espigueiro e a eira: formas, usos e contextos. Tese de Mestrado em História da Arte Portuguesa. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto.